terça-feira, 28 de julho de 2015

[RESENHA] Lua, Lobos e Cerrado

  Título: Lua, Lobos e Cerrado
  Autor: André Tressoldi
  Editora: Novo Século      Selo: Talentos da Literatura Brasileira
  Páginas: 328
  Sinopse: Josber é encarregado de auxiliar um grupo de estudiosos pelos diversificados caminhos do ambiente mato-grossense. No entanto, algo que parecia ser uma lenda regional começa a interferir nos dias, ou melhor, nas noites do pesquisadores, tornando a previsível pesquisa em uma inesperada aventura. Confrontado com essa nova realidade, terão de enfrentar nova criaturas, e a mais presente delas: os lobisomens. Mesmo em meio ao desespero, surge a paixão entre Josber e Tiacha, uma fabulosa guardiã, que se revelará como uma questão a mais no conflito entre o humano e o sobrenatural, selando o destino de todos. 
  O que eu achei: Vou começar essa resenha dizendo que estou profundamente envergonhada. O André fechou uma parceria super bacana comigo e, em troca, demoro quase seis meses para avaliar seu livro. Tsc, tsc. Que vexame, hein Vicky! André, aqui deixo minhas sinceras desculpas e uma promessa de que não acontecerá novamente. Bom, ele me enviou seu livro (obrigadão!) em janeiro, selando assim a primeira parceria oficial do blog. Hipi, hipi, urra! Obrigada pela confiança, André, e sucesso! 

  Vamos lá. Naturalmente, sendo Lua, Lobos e Cerrado meu primeiro livro fruto de uma parceria, minhas expectativas estavam lá no topo. Portanto, como uma expert em expectativas que não deram em nada, bateu, sim, aquele medinho do livro me desagradar. Não sou lá muito fã de histórias fantásticas, muito menos daquelas que de alguma forma envolvem lobisomens (entenda como trauma da saga crepúsculo). Porém, Tressoldi conseguiu trazer algo de novo à sua obra, algo interessante. Ele não se prendeu ao que o público já conhece sobre essas criaturas, mas se expôs ao criar novos conceitos, novos fatos e, principalmente, novas possibilidades. No entanto, ainda assim, houve pontos do livro que me deixaram com a pulga atrás da orelha e que, já, já, vou esclarecer. Primeiro, deixem-me explicar um pouco da história.

  Josber está liderando uma equipe de pesquisadores pelo cerrado do Mato Grosso. A equipe é composta por Eduardo, um doutorando, Olga, professora, Otávio, o motorista e Madeleine. Os cinco pretendiam fazer uma simples viagem, concluir logo a pesquisa e voltar para casa. Aí é que está. Numa noite em que decidem sair para procurar o animal alvo da pesquisa, se descobrem frente a frente com lendárias criaturas, famosas na região e temidas por todos: os lobisomens. Como se não fosse o bastante, depois da macabra experiência a equipe se perde em pleno cerrado, sem ajuda, sem ideia de localização e o pior: tendo que dividir o ambiente com as feras. As coisas esquentam quando se revela que aqueles lobisomens estão ali por um propósito, atrás deles. Então, começa a maior aventura da vida desses pesquisadores, que inclui descobertas estonteantes, criaturas amedrontadoras e segredos letais. Por exemplo: sabia que existem não apenas um, mas quatro tipos de lobisomem, um para cada lua? Pois é; eu também não. Essa é apenas uma das novidades que Tressoldi traz em sua obra, fascinante e desconcertante ao mesmo tempo.

  Ler a sinopse, eu admito, me atiçou e muito a curiosidade. Portanto, quando o livro chegou, eu estava prestes a viajar do Maranhão a São Paulo de carro; ou seja, eu teria quase 48 horas entendiantes enfurnada num veículo para me dedicar à leitura do livro. Talvez por causa da tranquilidade da viagem ou pelo fato de não haver mais nada com que eu pudesse me distrair, prestei atenção em detalhes do livro que eu provavelmente ignoraria em outra ocasião.

  Primeiro: a escrita. Quem já leu outras resenhas minhas sabe que eu sempre me atento fervorosamente às características da escrita do autor. Nesse caso, não foi diferente. Há algo na obra de Tressoldi que me atrai; sua escrita é complexa, detalhista e leve ao mesmo tempo. Gostei muito da forma que ele conseguiu descrever com maestria o ambiente do cerrado e, ainda assim, não se descuidar do que estava acontecendo naquele momento ou cansar o leitor com suas descrições. No entanto, algo me incomodou. Percebi que no livro há muitos trechos definitivamente desnecessários - quem já leu o livro provavelmente vai saber do que estou falando. São trechos que fogem do foco da história, fazendo parecer uma coisa muito amadora. Sou uma leitora que aprecio muito a riqueza de detalhes, mas daqueles que convêm. Certas passagens do livro ficaram até sem sentido, porque aquilo era realmente desnecessário.

  Gostei da forma como os personagens foram crescendo ao longo da trama. Começaram ali, como pequenos visitantes, e a medida que podiam mostrar mais de si, se revelaram grandes amigos do leitor. Vemos as particularidades, loucuras, pensamentos de cada um (mesmo que a narração fique apenas a cargo de Josber) claramente e simpatizamos com a galera. Madeleine, que pode parecer uma doce jovem no início, acaba de revelando um pouco menos tímida durante a trama. Eduardo nem sempre é tão durão e Olga pode, sim, apresentar um lado mais feminino. A forma como eles foram "obrigados" a se unirem em prol da sobrevivência de cada um é muito bonita. Há cenas em que um se arrisca pelo nobre objetivo de salvar a vida de outro. Ponto para Tressoldi! Porém, a narração feita por Josber deixou a desejar. Não pela falta de detalhes (como já disse, admirei muito esse ponto da escrita de Tressoldi), mas porque, em certas vezes, havia detalhes demais. Havia coisas que o narrador poderia simplesmente ignorar ou não enfatizar tanto, porque chegou a ficar vulgar às vezes.

  O enredo, por outro lado, me agradou. Vivo dizendo que, para uma história ser ao menos boa, o autor precisa unir boa escrita e um enredo original. Sei de gente que, caso se deparasse com um livro com temática de lobisomens, provavelmente dispensaria por ser algo que já se tornou comum na literatura fantástica. Contudo, com sua trama, Tressoldi não teve medo de investir em sua imaginação e pôr tudo no papel. O enredo foge dos clichês que estamos acostumados a ver e apresenta o leitor a um novo universo dessas criaturas, que eu, particularmente, nunca vira antes. Com um bom enredo, o desenvolvimento organizado praticamente fechou a obra com chave de ouro. A história claramente teve um início (a chegada dos pesquisadores e o início das descobertas), um meio (esclarecimento da situação e todos os contratempos) e um final (arrebatador e inesperado). 

  O desfecho foi muito bom! Vale lembrar que até agora não citei uma personagem de suma importância: Tiacha. Ela é uma das guardiãs e um tipo de lobisomem que se dispõe a ajudar Josber e sua prole desde o momento em que eles entram em apuros. Ela também será a responsável por capturar o coração de Josber, dando início a uma série de eventos que ameça tudo o que os lobisomens têm conquistado até então - inclusive a paz entre as espécies. Acho até que o final, embora sem pontas, se tornou um bom gancho para uma continuação já que, embora satisfatório, o desfecho em si aconteceu muito depressa. 

  O acabamento ficou incrível. A capa traz um ar de mistério, suspense e até mesmo um pouco de terror. A chamada - E eles achavam que sabiam tudo sobre lobisomens... - atrai a atenção do leitor e o anima para conhecer a história. A fonte da letra e o tamanho ficaram ideais para uma leitura confortável. Não encontrei erros de revisão, o que me deixou muito alegre! rsrsrs

  Na minha opinião, Lua, Lobos e Cerrado é um livro bom e que abre uma infinidade de horizontes para André Tressoldi, além de ter apontado alguns avisos de melhora para que cada livro seja melhor que o outro. Gostei muito da forma com Tressoldi lidou com a trama que tinha em mãos. Espero ler mais livros do autor em breve! Recomendo!

  Avaliação: 4 estrelas!

  Sobre o autor: André Tressoldi é nascido em Joaquim Távora, Paraná. Começou a escrever em 2010. Em 2012 publicou o romance policial Suicídios em Bom Jesus e o romance Quase Acaso, este pelo selo Talentos da Literatura. No mesmo ano, teve o conto Boi de Trela selecionado para participar da coletânea de contos em comemoração aos 50 anos da Associação Nacional de Escritores (ANE), de Brasília. Atualmente, trabalha no projeto de um novo livro, Contos Profissionais



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